quarta-feira, 11 de março de 2009

Coração em chamas... muitas chamas...


Estava tentando dormir, inutilmente, tentando muito dormir. Tinha um certo sono, ou sei lá se era sono, talvez fosse mais vontade de apenas dormir. Quando eu durmo as coisas costumam passar, ou pelo menos sinto menos. Passeei por todos os centímetros da minha cama, e a senti como se estivesse em brasas e nenhum canto era confortável o suficiente para me fazer atingir nem o primeiro estágio do sono. A cabeça á mil, pensamentos á mil, sentimentos á mil, eu á mil. Pensei: "É mais uma longa noite de insônia, já estou acostumada!" Achei que fosse mais uma daquelas noites normais em que eu simplesmente não consigo dormir, o dia vai acordar, e meus olhos continuarão abertos, consumidos pelo cansaço.

Resolvi que tinha que falar... Mas com quem? Falar o quê? Se eu não consigo conversar nem comigo mesma, quem dirá com outra pessoa? Então, peguei meu velho pedaço de papel, é o único que me ouve a qualquer hora. Derramo todo esse turbilhão confuso que há dentro de mim, e não sou julgada insana ou menos normal por isso. Sentada aqui na varanda, percebo que o céu antes escuro, já está ganhando tons alaranjados e avermelhados. Parecem chamas... Sim, é isso... chamas! O céu parece estar em chamas. Eis a minha resposta! Chamas... são chamas isso que sinto consumir-me por dentro. Agora sinto, o foco principal está em meu coração, é ele quem queima o restante do meu corpo, não o contrário.

Não consigo entender pq meu coração vive queimando. Que sensação tão cheia de angústia, de dúvidas, de dor. Não sei pq sou assim! Definitivamente não há nada que seja o suficiente para apagar isso. Mas, apagar o quê? Como é que posso agir, se eu nem sei o que acontece? Talvez quando o sono conseguir me vencer isso passe. Mas, enquanto isso, fico queimando, mais uma vez.

Penso em qual poderia ser o motivo disso, tem sempre tanta coisa dentro de mim, tanta gente perambulando nos meus pensamentos, e descubro mais uma vez... Não, não é alguém em especial, não tem ninguém me fazendo queimar, ninguém, além de mim mesma. Sou eu que me queimo, ando ateando fogo em meu próprio coração. Ainda não sei pq, mas sei que sou eu. Consumida por remorso? Amor? Mágoa? Dor? Tristeza? Talvez seja consumida por tudo isso e mais, não identifico exatamente, afinal está tudo se derretendo e se misturando enquanto o fogo se alimenta de mim.

Sempre achei por presunção (muita), eu acho, que eu era diferente. Diferente, tipo, especial, alguém com chamas dentro de si, insistentemente queimando de intensidade, é diferente da maioria. Não é?! É, acho que sou diferente, mesmo. Não pode ser normal queimar assim! Não é possível, que outras pessoas estejam em chamas por dentro como eu, e não demonstrem agonia em seus rostos. Meus olhos se apertam, e meu rosto ensaia uma careta constante, é nitído, eu queimo, dói, e eu mostro mesmo sem querer.

Acho que sou uma louca incendiária, deixar meu coração tranquilo e em paz, não me lembra em nada a vida interessante que imaginei pra mim, e parece ser por isso que eu toco fogo aqui dentro. Talvez por gostar de ouvir os estalos que as chamas fazem, e o laranja brilhante que elas formam. É, talvez, talvez isso, ou talvez seja apenas mais uma teoria. É bem provável que do jeito que eu gosto de mistério, eu mesma esconda as respostas que tanto procuro.

-Era esse o tipo de vida intensa e interessante que você imaginava, Rafaella?!- Pergunto-me.
-Não sei...- E "não saber" me parece sempre a resposta, acho que eu nunca sei muito de mim.

Vou tentar dormir, ou apenas consentir que minhas próprias chamas, me devorem. É, é o que eu vou fazer, parece ser o que eu sempre faço. Não há como apagar uma chama infinita que eu resolvi inconscientemente alimentar cada vez mais. E assim, continuo me queimando... queimando... queimando... Até quando não houver mais alimento pra esse fogo, ou mais nada para ser queimado, o que me parece ser a mesma coisa, já que eu alimento essa chama com tudo o que há em mim.

Espero que eu consiga controlar isso, afinal preciso dormir e acordar inteira, sem ter queimado tudo, tudo isso, tudo o que há por dentro. O céu já está acordando, e parece que meu coração em chamas, não aceita nada que queime mais do que ele. Me obrigando a ir deitar, antes que o sol tão quente, se levante. E eu vou! Já me basta um "sol" que carrego dentro de mim, dois seria insuportável. Vou, sim, não sem antes dizer que na verdade não quero que nada me apague, nem eu mesma me apagarei. O fogo queima, mas me esquenta e me ilumina. Uma contradição óbvia, afinal é de mim, que estou falando. E contradição? É algo que definitivamente faz parte do que sou. Fogo que queima e devasta tudo, sentimento que alimenta e aumenta tudo, sou mesmo fonte de todo esse inferno quente que trago no peito.

[Rafaella Rocha]

Um comentário:

Unknown disse...

adorooooooooo seus textos...