quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Foi baixo... (Parte I)



Eu olho pra você e automaticamente penso: Esse cara vai foder minha vida! Vai foder bonito... E já me vejo chorando sentada no chão do banheiro, com o chuveiro fazendo barulho, e no mp3 rolando música pra chorar... Já me vejo saindo do banho, porque minha mãe esmurrou a porta perguntando se eu ainda estou viva, temendo loucamente encontrar a princesinha dela banhada em sangue causado por uma lâmina... Saio enrolada na toalha, ainda chorando, me encaro no espelho, buscando sempre o ângulo menos feio de chorar e achando curioso o fato de que meus olhos ficam meio esverdeados quando choro... Até dou um sorriso interno e aparecem mil outros assuntos, mas eu só quero saber da dor, daquela dor que o cara que eu sabia que ia foder minha vida, causou. Sim, eu já consigo ver isso tudo, só de te olhar.


Beleza, continuamos nos olhando a noite inteira, eu já meio bêbada, tirando foto com direito a biquinho com as amigas, retoco provocantemente o meu batom vermelho, ali no meio da balada mesmo, pra você ver. Te olho, baixo o olhar, assanho o cabelo, e danço de uma forma que não sei de onde, tirei que é sensual. Vou ao fumódromo, por coincidência ou não, você chega por lá, olha mais algumas vezes e é mais correspondido. Sei que mulher fumando é horrível, mas sabe como é, né? Batom vermelho, dose de whisky, fica faltando o cigarro na mão, pra completar a fantasia de mulher fatal que eu nunca fui, e nem fantasiada, consegui ser. Mas, não seria por falta de tentativas, engraçadas, mas tentativas.

Volto pra boate, alguns carinhas chegando, e eu antes de dar o fora neles, olhando diretamente em seus olhos, enviando a mensagem: Tá vendo? Estou mandando mais um embora! Vai ficar só olhando por muito tempo?. Encosto no bar, falo com o garçom que já é conhecido antigo, já que estou por ali toda sexta, peço mais uma dose do "de sempre", e ele já sabe o que trazer. Chega mais um carinha assanhado, que vem falando muito perto do meu rosto, o que me deixa visivelmente puta, e aí chega você, passando entre mim e o louco lá, atrapalhando, e no caso, me salvando. Eu sorrio e agradeço, e você finalmente puxa assunto.

Começamos a conversar, e você me diz que não estou doida, que realmente estava me olhando, e revela que não é a primeira vez que me vê, que já me viu antes, e cita lugar, roupa, e o idiota com quem eu estava acompanhada no dia em que não sei como, não te notei. Meu coração deu um alerta baixo, a música alta e o álcool me fizeram desconsiderar... "Ele vai foder sua vida, tá louca?"
Engatamos um papo bacana, você não tentou me agarrar logo, e tudo fluía lentamente, no tempo perfeito. De repente, alguém chama teu nome no palco, você vira e diz: "Opa, tão me chamando!" Eu, chocada, sem entender nada, te acompanho com os olhos. Você pega o baixo, passa a correia por trás do pescoço, ajeita seu cabelo à la Jon Bon Jovi, moreno, mas ainda assim, à la Jon Bon Jovi, e começa a tocar... Meu coração se rasgou todo no peito, pulou, deu cambalhotas aos berros dizendo: "Tá vendo sua filha da mãe? Ele vai foder sua vida! Sai correndo AGORA..."
Pra variar eu nunca escuto os avisos do meu sempre intuitivo coração, e fiquei lá, te vendo tocar, e me olhar ao mesmo tempo, e cada segundo de olhar, fazia com que uma vontade absurda de algo que eu nem sei o que era, surgir. A música acabou, você passou a correia do baixo tirando-o, e mais uma vez ajeitando o cabelo de um jeito maldito, que certamente iria contribuir no combo "vou foder sua vida", desceu do palco e veio na minha direção, nos beijamos. Te deixei todo manchado de batom vermelho, (não, o batom não era vagabundo), com a intensidade dos nossos beijos que com lábios com ou sem cor, conseguiriam nos deixar manchados mesmo assim... Te afastei, alisei teus cabelos, olhei profundamente nos teus olhos e disse pro meu coração: Porra, por que tu não me avisou que era grave assim? Esse cara vai foder minha vida MESMO!


Profecias se concretizando... Hoje me pego, observando você fodendo a minha vida, fico reparando no som dos baixos nas músicas pra te imaginar tocando, e torcendo pro arqui-inimigo do meu time só pra te ver um pouco mais feliz... E foi assim, que mais uma vez não ouvi meu coração, e vez ou outra choro ensaidamente na frente do espelho, como eu tinha previsto quando te vi... 




(Rafaella Rocha)

3 comentários:

Jaci Sales disse...

Ai, Rafa, morri! Você escreve lindamente. E claro que eu super me identifiquei. Sempre ignoro os avisos que dão meu coração, minha mente e qualquer outro orgão do meu corpo na tentativa de ser melhor ouvido, mas... quanto mais cara de "fodedor de vidas alheias", mais me encanto. Acho que o problema é com a gente!

Geffá Felipe disse...

http://www.youtube.com/user/todasdosengenheiros#p/u/92/g2EmNp7SfWo

Anônimo disse...

Eu lendo teus textos parecem que saem de dentro de mim, parece que eu estou dizendo e vivendo tudo isso. Parabens... tu falas as coisas que nós vis mortais, apaixonadas e romanticas sentimos e sofremos e muitas vezes não sabemos expressar num papel, porisso te peço licença com devidos creditos para postar no meu blog.. ameiiiiiiiiiiiii. vou te seguir e adoraria que tu me seguisse tb, assim qdo eu postar algo meu tu tb pode pegar... lógico que sem comparaçao com os teus. Beijos.