quinta-feira, 4 de novembro de 2010

And The Oscar goes to...


Eu vivi cismada, absurdamente, cismada com você por anos. Tinha a absoluta certeza de que era você, e ninguém mais, o ator principal de minha vida... Tranquei portas, selei janelas, e nunca mais dei um "oi" sincero para o restante do mundo, não haveriam mais testes para participar de minha vida... Tornei-me escrava de uma obsessão, escrava, não, devota, fui devota dessa obsessão. Sempre estive ali, ao alcance de qualquer chamado teu, e muitas vezes, de chamado algum, eu, delirante, achava que tinha escutado tua voz me chamando, ou um gesto de cabeça sinalizando "Sim, serei a estrela do teu filme". A verdade é que por mais que você um dia, tenha me chamado mesmo, com palavras tuas e tudo, ou tenha gesticulado com cabeça ou me pego pelas mãos, você nunca quis estar na minha vida, se é que isso é querer, foi apenas por um rápido e apressado momento.

Eu sempre soube que um dia, eu me daria conta do quão ridícula fui, só não pensei que ficaria chocada por ter sido extremamente patética por tanto tempo. A culpa foi minha, eu sei! Ah, a maldita culpa... Eu poderia jogar-la toda em cima de tua perfeição imperfeita, e cá entre nós, inexistente, mas não o farei. Ou farei? As amigas dizem que você merece, que você, sim, é culpado dessa odisseia sentimental dos infernos que resolvi travar no universo que construí pra nós dois. Sempre te vi tão inseguro, tão deslocado em teu próprio mundo, que podia sentir no fundo da alma que você precisava ser salvo. Eis a questão, você até poderia estar precisando de socorro, mas nunca o quis, e principalmente, não o que viesse de mim. E aí, que eu desisti, de verdade, desisti de tentar abrir teus olhos, desisti de tentar te mostrar uma verdade que talvez seja só minha, e que louca como sou, é bem possível que não seja nada certa. Desisti de te trazer pro meu filme!

Acho que no fundo, só pra não sair tão por baixo, vou te dedicar um pouco dessa culpa, quando eu subir ao palco para receber meu Oscar de Melhor Roteiro por Uma Alma Gêmea Que Não Te Quer, e dizer que se não fosse pelos teus sorrisos e frases feitas, eu não teria conseguido chegar lá, eu não teria pirado a cabeça e jogado pra longe toda e qualquer possibilidade de ser feliz nos últimos 6 anos. Eu não teria andado por aí com uma lista de qualidades e defeitos seus, só possibilitando a entrada de alguém na minha vida, se ele preenchesse pelo menos cinco itens, transformando-se em um projeto de você. Eu não teria tentado esfregar na tua cara, que existia a possibilidade de me perder pra sempre, e constatar empiricamente que isso não te importava mesmo.

Vou subir nesse palco, com olhos marejados de lágrimas, porém com uma certa beleza e uma certa luz, a beleza de não mais querer a todo custo te chamar a atenção, e a luz de conseguir enxergar de verdade, mais pessoas além de ti, nesse teatro tão cheio. Vou pegar meu Oscar, olhar para cada uma das pessoas que viram a palhaçada dramática que foi esse meu filme, por você, e agradecer de coração pela pena que todos tiveram, (embora eu fique p da vida com isso de pena, mas vamos lá, em vários momentos, eu fui "in"digna disso) e sorrir com toda minha alma.

E direi minha última frase dedicada somente á você:

"Não vou mais te procurar nas semelhanças, na verdade, quero não te achar, nem nas diferenças..."


 
 
 
 
 
O show, TEM que continuar... Porém, com outros atores, outro roteiros...
 
 
 
 
(Rafaella Rocha)

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