quinta-feira, 7 de julho de 2011
Catar...
Demorei a dormir, caminhei quilômetros entres os cantos da minha cama, queimei lenta e dolorosamente entre meus lençóis, o travesseiro ficou geladinho por causa das lágrimas que insistiam em cair sem parar dos meus olhos, contei cada estrela do meu teto, depois contei de novo para ter certeza, e depois fingi encontrar figuras formadas por elas, e em tudo, você.
As paredes pareciam se estreitar, como numa metáfora daquilo que sinto, se moviam, me espremendo e fazendo minha claustrofobia berrar a plenos pulmões, me faltava o ar, me faltava você. Minha garganta doía, não era mais um nó, parecia uma cerca de arame farpado, que me fazia gemer de dor ao engolir cada palavra a ser dita, ou pretendida. Sentia espamos frios que se iniciavam no coração, passavam e machucavam toda e qualquer parte minha, até chegar na minha mão, na ponta dos meus dedos, e aí, o que antes doía aqui dentro, dói tanto aqui fora.
Eu não aguento mais ser assim, não quero mais ser assim, não quero mais espiar minha lucidez se esconder nos cantos escuros do meu quarto, e caçar-la zombando de mim, gritando o tempo inteiro que eu nunca serei capaz de pegar-la, pois é você quem dá força para ela continuar fugindo loucamente de mim. Divido o corpo com mais alguém, divido o corpo com o você que também sou eu, aliás, no eu que me tornei você, e você é insuportável dentro de mim. É de forma perfeita e irritante, o maior dos meus inimigos, eu sou você, e como não me destruir ao tentar te destruir aqui? Sai, por favor, sai sozinho, pode sair com pena, pode sair com o que quiser, leve o que quiser, mas me deixe aqui em mim, não me leve, só saia.
Agora ao acordar, ou despertar, sei lá, nem sei se dormi de verdade, fixo os olhos no teto, ou nas paredes, e pisco uma mínima quantidade de vezes, o que me faz parecer em transe, e no pensamento, momentos, meus, seus, nossos, ou imaginários. É utópico demais sentir algo assim! Por sinal, gostaria de mandar os poetas antigos com todos aqueles amores impossíveis, para o inferno, preciso culpar alguém por ter escrito sobre eles, e assim, eu poderia conviver achando que padeço de um mal qualquer, não de um amor irrealizável. E não vou bater na boca por dizer que preferia estar doente, do que te amar, não vou, não mesmo!
E eis que me pego culpada por comparar-te a alguma coisa ruim, me sinto demasiadamente mal por te macular mesmo que em pensamento, um anjo caído, capaz de transformar meu mundo em um globo de vidro que precisa do seu chacoalhar para ter um pouco de vida. Mas não brinque muito, na verdade, tenha um pouco de cuidado com isso que está nas tuas mãos... É quando sinto-me escorregando por teus dedos indiferentes, e ao ir caindo, posso te ver dar as costas e sair andando em teu jeans perfeito, com tua camisa perfeita, com teu sorriso "nem aí" perfeito...
É, mais uma vez eu vou ter que me catar!
(Rafaella Rocha)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
"Sai, por favor, sai sozinho, pode sair com pena, pode sair com o que quiser, leve o que quiser, mas me deixe aqui em mim, não me leve, só saia."
Perfeito, Rafaela (:
Postar um comentário