Tantas vezes brincando nos dissémos: Cuidado pra não se apaixonar! E no fundo tudo o que queríamos mostrar um ao outro, era que nós éramos apaixonantes, mas "inapaixonáveis", e que isso se tornasse verdade pra nós dois. A gente sorria com essa possibilidade absurda de nascer uma paixão, cada um dava aquele tipo de sorriso imponente mostrando que não havia margem pra que isso acontecesse. Vieram os beijos de olhos mais fechados, os toques mais acarinhados, e uma certa vontade de ficar pertinho. Eu não percebi, você também não, ou percebemos mas não quisemos pedir o "stop" da brincadeira. Quando eu te contava da minha vida sem você, sentia que por alguns instantes tudo o que você queria era ficar surdo, ao invés de ter que sorrir pra mim com aquele jeitinho indiferente enquanto eu te falava de outros caras. Mas quando era a sua vez de falar sobre as "inhas", a boba aqui, já xingava a sua "da vez" quase que entregando aquele ciúme que me dava chutes no estômago. E assim, o tempo foi passando, e aquele papo de "não se apaixonar" ainda era o papo da gente. Eu ia pra balada, você saía pra beber, mas no final da noite nossos celulares sempre nos ligavam, e falar deitadinho na cama com o efeito do álcool, era bacana. Eu relutei em admitir, me forcei e me envolvi um pouco mais sério do que de costume com um amigo seu, fiz outra infinidade de besteiras do tipo garota "moderninha", e você não gostou, não gostou e até que enfim, admitiu. Bebeu, chorou, pediu, e eu ainda com aquilo de "não estou apaixonada e não ligo pra ninguém", zombei de ti achando que era apenas um momento um tanto quanto etílico demais.
Depois disso ainda, continuei batendo á sua porta com aquele sorriso de quem só queria uma boa noite na cama, e você fingindo que não ligava, sorria de volta. Assim, foi até nos cansarmos disso! Surgiu a mágoa de quem muito se calou, e você cansado, foi atrás das tantas outras, eu enlouquecidamente tomada por algo que nem sabia que era ciúme e dor de cotovelo, saí atropelando qualquer coisa só pra te atingir. No final das contas, acabava eu ficando ferida, e você ficando curado. Desespero! Era essa a sensação que acompanhava minhas ressacas, e aquela maldita amnésia alcóolica, que me deixava o resto do dia com um monte de interrogações idiotas na cabeça. E o pior era te ver vivendo sem a minha participação "não apaixonável" na tua vida, e lembrar que você parecia "se apaixonando", enquanto eu apenas brincava.
Opa, agora quem tinha acordado era eu, para um sonho do qual você não queria mais participar, era a minha vez de beber, chorar e pedir. E nossa! Como eu pedi! Lutei muito até ter de volta o teu sorriso "nem aí" do lado da minha cara de "tô toda aqui". Fui aguentando cada e toda mulherzinha nova, caladinha. Mas, tudo tem um limite e eu cheguei ao meu, resolvi te conquistar, usei de todas as artimanhas que conhecia e as que eu não conhecia também, até conseguir. Nós viramos um casal, daqueles bem apaixonados, aliás daqueles insuportávelmente apaixonados. Se brincar havia bolsa de apostas, para ver o quão pouco duraríamos, a maldita inveja alheia sempre nos rodeando. E como duas crianças nem aí com nada, brincavámos de descobrir quem tinha se apaixonado primeiro. Eu me arrisco a dizer, que nós já estavámos apaixonados quando resolvemos brincar disso, e nos escondemos durante todo esse tempo atrás dessa casca de "sem compromisso é apenas sexo". Durante meses, éramos eu e você, num mundinho só nosso, minha escova de dente vermelha do lado da sua, meu sabonete de erva doce no seu banheiro, e um travesseiro meu deixado na sua cama, ao lado do casal de sapinhos que te dei. É, a gente se bastava!
Demos certo durante um bom tempo, até que as mágoas da nossa amizade colorida, voltassem a doer e começamos a jogar na cara um do outro o que mais detestávamos. Foi quando tudo desandou, e eu pude ver que enquanto eu brincava de "não me apaixonar", eu AMEI, e perdi o único homem que realmente eu gostaria de me apaixonar, VOCÊ! São três e tantas da madrugada estou na varanda daqui de casa, Edith Piaf e todo esse maldito ar retrô das músicas dela tocando no mp3 (e a sensação de "Ah! Queria estar num café em Paris!", que ela me dá), um copo de Coca Zero (bem que podia ser champanhe, mas estava quente), um cigarro que está se queimando só, e essa saudade louca do sorriso indiferente e diferente que só você tem.
Hoje você já aprendeu, a não se apaixonar por mim, e eu só quero brincar de verdade de fazer você me amar, de verdade também. Pq quando me pego andando pra trás, vejo que é só pra poder cruzar com você novamente, e sentir um pouco daquele passado se fazendo presente, e finjo inutilmente que não ligo pra dor que sempre vem de brinde. Ainda uso o disfarce de "garota aluada" pra poder te ter, quando e quanto você me dá, é o único jeito de sentir você. Mas, nada me faria mais plena do que ser a sua "minha".
Aqui entre nós?! Quando eu deixo você me chamar de "minha", é pra ver se você volta a gostar disso e acredita que fui tua desde o primeiro beijo, mesmo quando a brincadeira era não sermos um do outro. Sei bem que deve ter alguma garotinha que suspira por você, e que teu ego acha isso o máximo. Mas, sei também que quando queres uma mulher pra te fazer sentir o homem que você quer ser, é em mim que pensas. Tem coisas que talvez, não vejas, ou mais uma vez não admitas, mas ainda faço parte de tudo aquilo que queres. Embora, eu me revire toda de ódio, quando apenas te imagino em outras bocas e em outros toques, ainda penso que você pode reaprender a me amar. Seria mais simples, começar do zero e conquistar um outro alguém, um alguém não imune á mim, mas é fazer parte do tudo o que sonhamos que quero, e é só contigo que quero e sei amar.
[Rafaella Rocha]
P.S: Texto antigo de momentos já passados, só pra atualizar.
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